A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) usou as redes sociais e a tribuna do Senado para expor sua indignação contra o adiamento do julgamento da Banda New Hit. Acusados de estupro coletivo por duas adolescentes de 16 e 17 anos, os nove integrantes da banda permanecerão livres pelo menos até setembro, por determinação da juíza Márcia Simões, que acatou o pedido dos advogados dos réus para localizar duas testemunhas da defesa que não foram intimadas pela Justiça.
“Isso significa que teremos que esperar mais sete meses para ver os músicos Guilherme Augusto Campos Silva, Alan Aragão Trigueiros, Edson Bonfim Berhends Santos, Eduardo Martins Daltro de Castro Sobrinho, o Dudu, Jefferson Pinto dos Santos, Jhon Ghendow de Souza Silva, Michel Melo de Almeida, Weslen Danilo Borges Lopes, William Ricardo de Farias e o policial militar que se manteve de plantão fazendo segurança do ônibus para impedir que elas pudessem fugir daquela situação de violência, responderem por um crime cometido no dia 26 de agosto de 2012. Os nove acusados permanecerão em liberdade, fazendo shows, como se nada tivesse acontecido”, criticou a senadora.
Lídice comparou o episódio ao estupro coletivo ocorrido na Índia, cuja repercussão internacional se justifica “porque ninguém pode concordar com uma violência dessa com a mulher ou ficar calado diante do fato em pleno século XXI”. Ela lamentou que esse tipo de “comportamento animalesco” tenha ocorrido num país como o Brasil, onde as mulheres estão avançando na conquista de espaços no sentido de aumentar sua participação em todos os setores da sociedade. “Ao mesmo tempo, temos de conviver com uma situação de tamanha violência, escandalosa, de comportamento animal. Não podemos, de maneira alguma, ser coniventes com isso. Eu não posso aceitar que sejam dados sete meses para que a defesa apresente duas testemunhas que são consideradas tão importantes em um processo que teve início em agosto do ano passado, quando esses rapazes foram presos. É realmente algo que não podemos deixar passar.”
Lídice também repudiou publicamente declaração atribuída ao empresário da banda, Jorge Sacramento, ao jornal A Tarde, segundo o qual teria dito que “o que era ruim virou coisa boa. Estamos saindo da Bahia e ficamos conhecidos no Brasil”.
Lídice contestou: “Quer dizer, as coisas ruins, que foram a denúncia e o processo instaurado contra os integrantes da banda, que demonstraram que não apenas fazem música, mas que também têm um papel de degradação moral da nossa juventude, de violentadores sexuais, tornaram-se coisas boas para eles. Isso é um desplante, um cinismo, uma desconsideração com a sociedade, com a dor daquelas meninas, dos seus familiares. Eles acham que isso se tornou um fato bom na vida deles porque passaram a ser conhecidos, e as pessoas certamente vão lhes dar mais espaço em shows, para que possam ser vistos”.
O caso teve imensa repercussão nas redes sociais. Até às 18 horas desta quinta-feira (21/2), o protesto feito pela senadora no Facebook havia chegado à marca de 2 mil compartilhamentos, somando-se o perfil pessoal e a página pública da senadora. “É a demonstração que há uma indignação da sociedade brasileira, e, em especial das mulheres baianas”, opinou.
Lídice encerrou seu pronunciamento sobre o caso fazendo um apelo ao movimento feminista. “Pela proximidade do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quero, portanto, fazer este apelo, desta tribuna, para o movimento de mulheres do Brasil, para o movimento feminista, para o Senado Federal, para a Câmara dos Deputados: que possamos marcar, no próximo dia 8 de março, o nosso protesto diante da posição da Juíza na Bahia e do adiamento do julgamento dessa banda. Isso não pode se tornar um exemplo de impunidade à violência contra a mulher em nosso País.”
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