Militante comunista que foi deputado federal, membro do antigo PCB e, por fim, fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN) durante o regime militar, até ser morto pela ditadura em 1969, Carlos Marighella foi homenageado pelo Senado nesta segunda-feira (8/7). A cerimônia aconteceu a pedido do senador João Capiberibe (PSB-AP), que também foi integrante da Aliança Libertadora Nacional. Ele e outros parlamentares reiteraram que não se pode esquecer Marighella e sua luta. Assinaram a autoria do requerimento, juntamente com o senador Capiberibe, os senadores do PSB Lídice da Mata (BA), Rodrigo Rollemberg (DF) e Antonio Carlos Valadares (SE); Inácio Arruda (PCdoB-CE), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e José Sarney (PMDB-AP) .
“São raras as oportunidades de conhecer, de fato, o político Carlos Marighella, o lutador social”, pontuou Capiberibe, acrescentando que é importante que os mais jovens entendam que a democracia “custou enormes sacrifícios, custou vidas”. Já a senadora Lídice da Mata, ao relembrar a trajetória do homenageado, destacou a mobilização da juventude no último mês, com protestos em diversas cidades do País, como forma de contestação da política institucional. “É extremamente oportuno lembrar um homem que acreditava na política como um instrumento indispensável para a transformação da sociedade, um homem que acreditava na necessidade de partidos como instrumentos coletivos de ação política e que acreditava como poucos na justiça e na liberdade”.
O senador Rodrigo Rollemberg mencionou a atuação parlamentar de Marighella durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1946. Segundo ele, o líder se sobressaiu como defensor da democracia e dos direitos do povo, sendo cotidianamente afrontado pelos mais reacionários.
Inimigo número um – Lídice da Mata também recordou a longa ligação que Marighella teve com o PCB, até romper com o partido em 1967, quando fundou a Aliança Libertadora Nacional para promover a luta armada contra a ditadura. “Capturar Marighella – vivo ou morto – tornou-se, então, uma questão de honra para o regime militar”, assinalou a senadora, lembrando que ele foi torturado diversas vezes desde o governo de Getúlio Vargas.
Conforme observou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Marighella “não padeceu do exílio, ao contrário de várias pessoas que sofreram com as ditaduras; ele sempre optou pela resistência no Brasil”. Randolfe também lembrou que o homenageado era chamado de “inimigo número um do regime militar”.
Ao relembrar a trajetória de Marighella, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) citou o relato de que ele doava 92% de seus salários e funções remuneradas ao PCB e que, quando concluiu que o país não ia fazer as mudanças que julgava necessárias por meio de ações legais, optou pela clandestinidade e pela luta armada. “Ele levou às últimas consequências a luta por seus sonhos”, afirmou o senador pelo Distrito Federal.
Prioridades – Cristovam também fez uma provocação: “O que Marighella faria se ainda estivesse vivo? Qual seria sua luta neste momento da história, neste momento em que não se fabricam mais Marighellas porque a realidade social e histórica [com a redemocratização do país] é diferente?”. O senador disse acreditar que, se estivesse vivo, Marighella defenderia a ética não apenas na política, mas também nas prioridades quanto ao uso dos recursos públicos. Para Cristovam, há hoje uma corrupção nas prioridades, “que muitos não percebem”, como a prioridade do automóvel privado sobre o transporte público. “Ele não faria mais guerrilha como naqueles tempos, mas hoje estaria ao lado desses meninos e meninas que fazem uma guerrilha cibernética para mudar o Brasil”, declarou Cristovam.
No final do ano passado, quase um ano após o centenário de seu nascimento, o governo brasileiro concedeu a Marighella a anistia política post mortem. Participaram da cerimônia no Senado o filho do homenageado, Carlos Augusto Marighella (na foto, à direita), e o filho de João Capiberibe, Camilo Capiberibe, governador do Amapá.