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Lídice da Mata e Rosinha da Adefal afirmam ser necessário vencer obstáculos para a mulher marcar presença na política

Lídice da Mata e Rosinha da Adefal afirmam ser necessário vencer obstáculos para a mulher marcar presença na política.

 

Brasília, 22/03/2014 – Na opinião de duas parlamentares, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) e Rosinha da Adefal (PTdoB-AL), a mulher precisa participar mais ativamente da política e o momento pré-eleitoral é propício à convocação das cidadãs brasileiras. Mas que o chamamento não deve ocorrer apenas quando há eleições. Hoje, dos 81 senadores, apenas oito são mulheres, e dos 513 deputados, só 44 são do sexo feminino. Lídice da Mata, em entrevista exclusiva para o site Política Real afirma que a participação da mulher na política está relacionada com a participação dela na sociedade como um todo. “É chegado o tempo de eleição. É o momento de nós refletirmos sobre isso e convocar as mulheres brasileiras a participar da política”, argumentou.

 

Metade da população – “As mulheres, hoje, representam metade da população do mundo. E um mercado de consumo de quase US$ 28 trilhões. Maior do que a soma das economias dos Estados Unidos e da China Se elas representam isso no mundo, no Brasil elas representam também mais ou menos isso”, declarou Lídice da Mata.

 

Representatividade – Lídice da Mata advoga a ideia de que a mulher deve ter sua representatividade no Parlamento na mesma proporção de sua importância para a sociedade brasileira. “No Brasil, nós somos 52% da população. Somos um terço dos chefes de família no Brasil. Toda essa expressão econômica e social, ela precisa se refletir na política, para que a política brasileira seja mais democrática. Para ela ser mais democrática, ela precisa expressar a população”, argumentou. “Por isso, é extremamente importante que mulher participe da política, que a democracia brasileira esteja mais próxima da representação da sociedade. No entanto, nós temos uma representação que é uma das piores do mundo, em participação da mulher no Parlamento”, disse Lídice da Mata.

 

Fatores históricos – Mas quais são as razões que impedem uma aproximação maior da mulher à política? Para Lídice da Mata, alguns fatores são históricos. “Nós temos 82 anos que conquistamos o direito de voto. Uma sociedade machista, onde a mulher não era chamada para decidir o voto. Onde era pensado que o espaço da mulher era apenas o espaço doméstico, sem direito de participar, de decidir sobre a vida na sociedade. E essa tradição foi se mantendo e a mulher incorpora isso”, raciocinou.

 

Lídice da Mata considera que hoje, talvez a mais importante restrição à participação da mulher é a nossa dificuldade financeira. “A mulher está na sociedade brasileira num dos patamares mais baixos da remuneração salarial. A política é cara, exige recursos financeiros para a busca do voto, para gastar com transporte, na relação, na comunicação com o eleitor”, pontuou.

 

Machismo – Uma das barreiras ainda que não deveria existir em hipótese alguma, no entendimento da senadora, mas também historicamente retrata a mulher na política, é o machismo que permanece nas próprias agremiações políticas. “Os partidos passam o ano todo sem fazer nenhum esforço para incorporarem a mulher no poder político do partido, sem estimular a filiação de mulheres, sem qualificar as lideranças femininas existentes no partido. E quando chega na hora da eleição, obviamente não tem mulher para concorrer. Toda a vez que uma mulher pensa em concorrer, passa a mão na cabeça e questiona: ‘De onde eu vou tirar dinheiro?’”, ponderou Lídice da Mata.

 

Quotas – Para a senadora não há estímulo consistente quanto à participação da mulher na política, mesmo com uma conquista na legislação. “Lutamos muito e conseguimos uma lei de quotas no Brasil. Mas como essa lei não tem grande punição, a lei terminou virando 30% da chapa de homens que o partido apresentar, caso contrário não poderá registrar a sua chapa”, observou. No caso do partido de Lídice da Mata, o PSB, ela revela que se esforça para conversar sobre o tema. Ao mesmo tempo que busca descobrir mulheres com potencial para a vida política dentro dos quadros do partido, o que ainda é muito difícil.

 

Em geral, os partidos estão mais preocupados em cumprir a lei do que realmente pavimentar o caminho para o ingresso da mulher na política. “Termina que na hora H, os partidos pegam um monte de candidata e que depois você vai avaliar não tiveram nenhum voto e que apenas foram usadas para preencher as quotas da obrigatoriedade da lei eleitoral”, enfatizou.

 

Campanha motivacional – Na última quarta-feira, 19, o Senado realizou uma sessão especial na qual foi lançada a campanha “Mais Mulheres na Política”, com o slogan “Faça parte da política” e a hashtag “#vempraurna”.  O objetivo da iniciativa é estimular as mulheres a buscar no espaço público meios para que as decisões sejam mais igualitárias e as tomadas de decisões não sejam eminentemente masculinas. A ação é fruto de emenda ao projeto da minirreforma eleitoral aprovado no Congresso Nacional em dezembro passado (Lei 12.891/2013).  A campanha ficará no ar até junho deste ano. A autora da emenda é a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB–AM), procuradora especial da Mulher no Senado.

 

“Marcas da nossa luta” – A deputada Rosinha da Adefal (PTdoB-AL) ― Adefal é a sigla da Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas ―  entende que é imprescindível que se chame a atenção do país inteiro para o papel da mulher na política. Ela se referiu à campanha lançada no plenário do Senado. “Dias como esses, tem que haver mais vezes durante o ano. Mais comemorações e mais marcas da nossa luta. Nós sabemos da nossa responsabilidade na família e na sociedade. Somos a maior na população e a maioria no eleitorado. Sabemos que podemos mudar o rumo do nosso país. E esse também é o nosso dever”, realçou.

 

Deputada assassinada – Rosinha da Adefal, que é cadeirante, é a única deputada por Alagoas. E mais, a única mulher alagoana no Congresso Nacional. Ela lembrou da primeira mulher alagoana a participar da vida política e que teve uma abrupta interrupção na sua trajetória. “Há 16 anos, no Congresso Nacional, foi a deputada Ceci Cunha (PSDB) que, depois, inclusive, foi, brutalmente, assassinada, quando conseguiu renovar o seu mandato, pelo seu suplente, que queria a sua vaga na Câmara dos Deputados. Sucedê-la, depois de 16 anos, aqui, no Congresso, tem toda uma responsabilidade”, avalia.

 

A deputada alagoana representa, além da mulher alagoana, um público que também é vulnerável, assim como as mulheres. “É uma minoria, que são as pessoas com deficiência. A nossa responsabilidade é dupla.  É tripla quando vem representando todo um social, que infelizmente é esquecido no nosso país. Mas a gente sabe que quando a gente vem com propósito, essa luta se torna mais fácil. Estamos dispostos a vencer todos os obstáculos, para mudar o nosso país e o nosso Estado também.”

 

Transformar o mundo – Questionada como poderia resumir a participação da mulher na política, Rosinha da Adefal lembrou rapidamente de um trecho do discurso de posse da presidenta do Chile, Michelle Bachelet. “Quando uma mulher está na política, muda-se uma mulher; quando muitas mulheres estão na política, muda-se a política. E é através da política que a gente pode transformar o mundo”, repetiu.

 

Na visão de Rosinha da Adefal, a maior barreira para a mulher ainda é o machismo. Segundo ela, trata-se de uma questão cultural que está não só nos homens, mas nas mulheres também. “A gente sabe que infelizmente é assim. Então, para romper, para mudar essa cultura é preciso trabalhar na educação desse país, ensinando igualdade de direitos desde cedo. A maior barreira é a discriminação contra o gênero”, considerou. “Já provamos que somos capazes, uma massa produtiva desse país. Já provamos que podemos ocupar cargos, que damos conta dessa responsabilidade, mas, infelizmente, ainda, somos minoria no Congresso Nacional. E as que estão aqui não são reconhecidas em pé de igualdade”, complementou.

 

Eleições – Quanto à expectativa para as eleições de outubro, Rosinha da Adefal  manifestou-se otimista, apesar das dificuldades. “Principalmente para quem vem dos movimentos sociais como eu, não é uma eleição fácil, porque, infelizmente, na região Nordeste, também em Alagoas, a gente tem aquela política do coronelismo. Uma mulher, com deficiência, vencer e romper todos esses obstáculos não é fácil, mas acredito que o nosso povo está mais politizado, está mais consciente e vai fazer a escolha certa”, concluiu.

 

por Maurício Nogueira, especial para Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues

Publicado no site Política Real

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