Durante sessão especial no Senado em homenagem ao centenário de Rômulo Almeira e Ignácio Rangel, nesta segunda feira (02/06), a senadora Lídice da Mata fez um apelo para que o governo e instituições apoiem projetos do Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos (IRAE) e sugeriu que polo petroquímico da Bahia leve o nome de seu ilustre filho: “Temos, de forma concreta, não só homenagear com discursos e eventos, mas levar a efeito projetos que deixem cravado o legado desses dois grandes homens, que deixaram marcas profundas na história recente do Brasil”, se referindo também a Ignácio Rangel. A senadora também anunciou que vai consultar os Correios para lançar um selo em homenagem ao centenário de nascimento dos dois economistas nordestinos.
A iniciativa da homenagem foi dos senadores Lídice da Mata (PSB-BA) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), que se alternaram na presidência da sessão. Em seu pronunciamento, a senadora lembrou que os dois foram exemplo de profissionais e estudiosos preocupados com um plano nacional de desenvolvimento para o Brasil. Sobre o maranhense Ignácio Rangel, disse que ele defendeu que a inflação devia ser resolvida pelo lado da oferta de produtos e entendia como fundamental e necessária a elaboração de estudos sobre a realidade brasileira, para que fosse possível uma atuação econômica adequada.
Sobre Rômulo Almeida a senadora lembrou que ele se preocupava com o desenvolvimento vinculado à distribuição de renda e defendia uma ativa participação do Estado para garantir o desenvolvimento, com planejamento: “Ele tinha um olhar voltado para o Nordeste, um Nordeste com características próprias. Também se preocupava com as questões climáticas, principalmente a situação de seca, e defendia que o desenvolvimento da Bahia e do Nordeste passava pela industrialização, uma ideia nova para a época”, afirmou a parlamentar.
Sobre os homenageados, o senador Inácio Arruda destacou que “em todos os momentos essenciais do processo histórico brasileiro nas últimas décadas, encontram-se as marcas indeléveis do pensamento e da capacidade de trabalho de Ignácio Rangel e Rômulo Almeida, atuando juntos ou separadamente, mas sempre com o mesmo objetivo em vista: ultrapassar os entraves ao desenvolvimento nacional e acelerar a construção de uma Nação mais justa, progressista e com visão estratégica de planejamento”.
Desenvolvimento regional – Durante a homenagem, o presidente do Banco do Nordeste, Nelson Antônio de Souza, falou sobre as contribuições dos dois economistas, reconhecidos pelo esforço de pensar um projeto de desenvolvimento para o Brasil que incluísse regiões como o Nordeste. A atuação de ambos foi fundamental para incluir os temas do desenvolvimento regional e do planejamento na agenda política nacional, quando participaram ativamente da Assessoria Econômica do segundo governo de Getúlio Vargas e do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. A sessão especial contou com a presença de familiares dos dois homenageados.
Rômulo Almeida – Precursor do pensamento desenvolvimentista não só do Nordeste, mas do Brasil, Rômulo Almeida, nascido em 1914, em Salvador, foi chefe da Assessoria Econômica da Presidência da República no segundo governo de Getúlio Vargas (1950-1954). Atuou como um dos principais teóricos e executores de um modelo de desenvolvimento nacionalista e independente do capital estrangeiro.
De seu gabinete, germinaram as primeiras sementes da Eletrobrás, do Banco do Nordeste, da Petrobras, da Capes e BNDES, além de ter colocado na agenda política nacional temas importantes como o planejamento econômico e o planejamento regional. Após o Golpe de 1964, trabalhou na criação do Centro Industrial de Aratu e do Polo Petroquímico de Camaçari, e também na Comissão de Planejamento Econômico no governo de Antônio Balbino.
Rômulo foi presidente do MDB Bahia, partido pelo qual concorreu a uma vaga ao Senado, em 1978, e a vice-governador na chapa encabeçada por Roberto Santos, em 1982, derrotado em ambas. Morreu em 1988.
Ignácio Rangel – Nasceu em Mirado, Maranhão, em 1914, e foi considerado um dos analistas econômicos mais originais do desenvolvimento econômico brasileiro. Cursou Direito na antiga Faculdade de São Luís, seguindo os caminhos de seu bisavô, avô e pai. Depois, seguiu carreira na Economia, como autodidata. Mudou-se para o Rio, onde fazia traduções para a agência Reuters. Seus textos de análise econômica rapidamente ganharam relevância e foi convidado para fazer parte do grupo de assessoramento econômico de Getúlio Vargas, tendo sido um dos redatores dos projetos de criação da Petrobras e Eletrobrás. Em 1953, escreveu seu primeiro livro “A Dualidade Básica da Economia Brasileira”, publicado em 1957.
Nos anos 1950, integrou também os quadros do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), órgão vinculado ao Ministério da Educação que produzia estudos sobre os caminhos do desenvolvimento brasileiro. Foi, depois, convidado para realizar uma pesquisa a cargo da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), órgão das Nações Unidas instalado em Santiago. No retorno do Chile, Rangel ingressou no BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social), onde chefiou o Departamento Econômico. Chegou a ser convidado pelo então presidente João Goulart para ser ministro da Fazenda, mas recusou. Faleceu em 1994.
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